Comecei por querer falar sobre amor em tempos de vírus, depois amor em tempos de pandemia, depois amor em tempos de estado de emergência. Sabia que queria muito falar do que mais precisamos neste momento difícil: amor. Sem saber bem que nome dar ao período que atravessamos, decidi designá-lo de acordo com o que sinto: são tempos de guerra.
Amor em tempos de guerra.
Estamos no início do pior. Os números não mentem, a matemática não engana. Não há uma cura, não há magia, os países à nossa volta mostram-nos que não há como fugir… mas há como dar a volta, com amor.
No meio de toda a negatividade, do peso das notícias que nos vão chegando e da inevitabilidade de sabermos que amanhã vai ser um dia pior, vemos florescer iniciativas públicas e privadas, individuais e coletivas, que mostram quem verdadeiramente somos: um povo solidário, preocupado e altruísta. Estou deliberadamente a ignorar os restantes, que me envergonham – os egoístas, açambarcadores, aproveitadores, mentirosos, os que voluntária ou involuntariamente fazem circular rumores, pseudo-testemunhos e fake news que alimentam o pânico – acredito que estas pessoas não nos refletem, a nós, portugueses.
Espero os comentários que me digam que o amor não paga contas, não mete comida na mesa. O amor não sustenta empresas nem suporta investimentos. Não faz a economia avançar, não segura empregos, não alimenta o PIB. Não. O amor torna tudo mais fácil, aproxima-nos. O amor (pelos nossos, pelas nossas paixões, pela vida que levamos e pela que queremos levar) faz-nos ultrapassar o inultrapassável. Assim, antes de escrever o que quer que seja sobre o que faz o governo, as autarquias, sobre amanhã e a previsão do que virá depois, quero lembrar da palavra amor.
Seja a quem levou o trabalho para casa, a quem deixou temporariamente o trabalho para cuidar dos seus, a quem se mantém nas suas funções, a quem fechou portas e não perde a esperança, a quem deixou de visitar a avó mas lhe telefona todos os dias, a quem convidou o pai a passar uma temporada lá em casa, aos patrões que fingiram não saber dos 66%, a quem está a apoiar o pequeno negócio ao fundo da rua, a quem ativa serviços extraordinários para proteger os mais vulneráveis, aos que inventam soluções de proximidade, aos atentos, aos simpáticos, aos preocupados, dedicados, brincalhões e aos sorridentes… a todos os que tornam mais leve e menos desgastante a experiência nas trincheiras, obrigada pelo amor. Agradeceremos todos, depois de amanhã.